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Acesso em 26/03/2023 às 23h34.

Prêmio Mútua de Empreendedorismo: “Movido pela curiosidade e inspiração”, profissional da Bahia desenvolve processo sustentável de captura de CO2

29 de setembro de 2016, às 11h18 - Tempo de leitura aproximado: 8 minutos

Um dos grandes destaques da 73ª Semana Oficial da Engenharia e da Agronomia (Soea), em Foz do Iguaçu (PR), o Prêmio Mútua de Empreendedorismo apresentou os três trabalhos selecionados na iniciativa, visando reconhecer os projetos criados por profissionais e estudantes da área tecnológica.

 

Conceituada como uma nova técnica de produção de um catalisador de carbono para captura de CO2 (Dióxido de Carbono) a baixas temperaturas e conversão destes em outras moléculas orgânicas por adsorção, o projeto, de autoria do engenheiro químico Francislei Santa Anna Santos, da Bahia, foi um dos premiados pela Mútua e se sobressai como uma nova alternativa para a indústria, de melhoria para a qualidade de vida para a população e de preservação do meio ambiente.

 

Francislei conta que ainda na fase de desenvolvimento da proposta – apesar de seu projeto não ter seguido o roteiro padrão de criação de novos projetos -, já observou o potencial socioambiental de sua descoberta. Ele relata que à época “já especulava que poderia purificar o ar ambiente e preservar as árvores e tive a percepção que estava com algo que talvez pudesse mudar a relação da indústria com o meio ambiente por promover a melhoria da qualidade vida das pessoas pela purificação do ar que respiramos”.

 

A ideia selecionada no Prêmio Mútua de Empreendedorismo, que tem como parceira a Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), nasceu após o sucesso de outro projeto do engenheiro químico baiano – Processo de obtenção de hidrogênio de alta pureza por eletrólise da urina humana – que inclusive também foi premiado pelo Crea-BA. Esse resultado incentivou Francislei a continuar a teorizar reações químicas e a fazer experimentos em seu laboratório improvisado, montado em sua residência, em Alagoinhas (BA).

 

Como já citado, o desenvolvimento da proposta não seguiu os trâmites convencionais, tanto que quando da fase de inscrição no Prêmio da Mútua, Francislei precisou formatar no papel sua ideia. “Contrariando todas as lições aprendidas em metodologia da pesquisa e as técnicas de planejamento experimental, posso afirmar que o desenvolvimento do projeto não teve nenhum planejamento exato com etapas programadas e nem sabia ao certo o que estava fazendo quanto à dimensão do feito. Fui movido pela curiosidade e inspiração”, revela.

 

“O tino de pesquisador incentivou-me a comprar alguns equipamentos básicos como balança, microscópio, algumas vidrarias e reagentes e comecei a “brincar” de ciência em casa nos horários livres. O achado dessa molécula e sua aplicação na captura de CO2 foi algo inesperado, porque eu sempre estudei nanotecnologia desde o mestrado, e ao longo da vida estudei interação molecular por interesse próprio, mas até meados de outubro de 2015, quando desenvolvi esse novo processo em questão, não tinha a percepção exata que estava desenvolvendo algo de interesse dos laboratórios de nanotecnologia do carbono e que tivesse a dimensão que o projeto está alcançando”, conta ele orgulhoso.

 

A molécula, que ainda era desconhecida, após análise de laboratório, apresentou curvas de DRX (técnica padrão para caracterizar a estrutura cristalina dos materiais) características do grafeno e seus derivados, afirma o pesquisador. “Quando o laudo saiu, a primeira análise deu carbono amorfo (aC) e não grafeno como esperava, a essa altura já havia descoberto que o sistema que tinha em mãos era seletivo a captura de CO2”, explica Francislei.

 

Mesmo não se confirmando as expectativas iniciais, a descoberta do engenheiro já era algo realmente novo porque o composto extraído era líquido e não sólido como o aC convencional e, portanto, um sistema ativo como uma “folha artificial” e não uma molécula   de carbono ativado na sua forma sólida convencional.  Francislei “batizou” o novo sistema de NHK sigla de “Nano Hope Key” ou no português “Nano Chave da Esperança”. “Esse nome é significativo porque eu já havia percebido o potencial de aplicação da molécula como agente de captura de CO2 atmosférico e purificação do ar e sua relação com o mercado de crédito de carbono pela união dos interesses da indústria com a preservação ambiental e qualidade de vida do homem pelo ar puro que respiramos”, vislumbra o idealizador do projeto. Francislei já patenteou sua descoberta e publicou artigo para ter a propriedade intelectual do feito, inscrevendo, também seu projeto na 73ª Soea e na Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB).

 

Diante disso, o profissional continuou suas pesquisas e experimentos aprimorando cada vez mais a técnica. “Hoje tenho a consciência que entre carbono cristalino e carbono amorfo há compostos intermediário e por termos absoluto controle das etapas, temos potencial de produção em larga escala. Percebi que podemos ainda descobrir outros alótropos de carbono ainda não catalogados, assim como podemos montar outras cadeias de carbono que sejam úteis à indústria aumentando a qualidade do produto final e a aumentando competitividade frente aos produtos importados”, revela.

 

A inscrição no Prêmio Mútua de Empreendedorismo veio em meio a todo o trabalho e, conforme o autor explica, foi algo inesperado e muito gratificante. “Estou muito feliz com o reconhecimento do meu trabalho pelo Prêmio da Mútua e por saber que ele está nascendo dentro da Engenharia brasileira. Foi um acerto ter participado do Prêmio, pela credibilidade que a Mútua tem e pela divulgação que a proposta alcançou”.

 

Atualmente, explica o engenheiro, o projeto encontra-se em fase de captação de parceiros e de divulgação. Ele relata que os trabalhos estão organizados em dois níveis de atuação, sendo o primeiro a obtenção do NHK e a segunda a aplicação do NHK. “O processo de obtenção é fruto direto do meu esforço individual. Quanto às aplicações das nanopartículas de carbono estamos em busca de outros interessados para somar à proposta”, destaca.

 

Importantes parcerias já estão fechadas neste sentido da aplicabilidade, com outros dois premiados pela Mútua, que estão compondo a equipe executora, constituindo o que Francislei chama de núcleo. Outra aplicação da molécula, que ainda está em desenvolvimento, é uma nova pigmentação super-negra para a indústria de tintas que está sendo desenvolvido em outro núcleo, composto um outro profissional da Bahia e outro parceiro da Alemanha.

 

O autor


Conselheiro regional do Crea-BA, a primeira formação de Francislei Santa Anna Santos, em 1998, foi no curso técnico de Habilitação Básica em Química que pela Centro Educacional Cenecista Alcindo de Camargo (CNEC), em Alagoinhas-BA. Depois veio a graduação em Engenharia Química pela UFCG, em 2003, onde foi aluno de iniciação científica com o projeto “Isotermas de adsorção das farinhas de mandioca temperadas”. Após a graduação, iniciou suas atividades como pesquisador de Desenvolvimento Tecnológico Industrial pela UFBA/PETROBRAS/CT-Petro com estudos de “Oxidessulfurização das frações do petróleo”.

 

Atuou como engenheiro projetista de processamento químico na indústria em 2006 e foi professor substituto do Departamento de Engenharia Química da Escola Politécnica/UFBA (2005 a 2007). Em 2008, concluiu o mestrado em Engenharia Química pela Escola Politécnica na UFBA com o trabalho “Estudo das propriedades ópticas, térmicas e mecânicas de filmes de PELBD com nanopartículas de SiO2 incorporadas por fusão”. Atualmente é professor do Instituto Federal da Bahia (IFBA), em Salvador, na carreira de Ensino Básico Técnico e Tecnológico – EBTT e licenciado para doutorado pelo Programa de Engenharia Industrial (PEI/UFBA).

 

 

 

Fonte: Gecom/Mútua

Fotos: Arquivo pessoa 


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